• fevereiro 19, 2022
  • Dra. Mayra Fernanda
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Conheça as lesões e ocasionalidades mais importantes que podem aparecer na boca de seu filho

Existem doenças onde lesões na boca são o primeiro sinal claro de infecção, mas nem toda lesão na boca indica alguma doença. Adultos costumam temer, e evitam conversar com um cirurgião-dentista quando percebem alguma anormalidade dentro da boca, e quando buscam por ajuda, geralmente a doença já está avançada.

É preciso quebrar esse tabu, pois o completo oposto também ocorre: quando a pessoa acha “não ser nada demais, logo sara“. Desde que é verdade que existe lesões de boca que não irão afetar a saúde geral, existe também aquelas lesões silenciosas que podem sim estar acompanhadas por doenças na saúde geral do corpo.

E com crianças, não seria diferente, e é exatamente por isso que irei apresentar as lesões e ocasionalidades mais comuns e também as incomuns em boca de bebês, crianças e adolescentes, a fim de alertar aos pais que nada é frescura, mas que também nem tudo precisa ser grave.

Se há alguma anormalidade dentro da boca de seu filho, busque sempre um profissional qualificado e atualizado.

A úlcera (chamada popularmente de afta) é uma lesão dolorosa, que leva em média entre 5-14 dias para cicatrizar. Ela pode ser adquirida através de trauma bucal, mas também pode indicar baixa imunidade.

ALTERAÇÕES BUCAIS EM BEBÊS

Nódulo de Bohn

Os Nódulo de Bohn podem assustar pelo nome e até pela aparência, mas ele é inofensivo!

Esses nódulos brancos são somente remanescentes de glândulas salivares localizados no rebordo alveolar (onde nascem os dentes). Acomete cerca de 47,7% dos recém-nascidos. Não dói.

Pérolas de Epstein

As Pérolas de Epstein são exatamente a mesma coisa o que chamamos de Nódulos de Bohn, a única diferença entre ambos são suas localizações.

Esses nódulos brancos, também remanescentes de glândulas salivares, estão localizados no palato duro da criança. Acomete cerca de 35,2% dos recém-nascidos. Não dói.

Anquiloglossia

Popularmente conhecida como “língua presa”, é quando temos o o freio lingual preso próximo à borda da parte papilada da língua, impedindo a mobilidade adequada da língua. 

Isso dificulta não só na fala, como também na amamentação da criança, sendo necessário tratamento imediato logo que diagnosticado. O tratamento é o corte desse freio, “libertando” a língua. Acomete 4% dos recém-nascidos.

ALTERAÇÕES BUCAIS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Leucoedema

O Leucoedema tem sido relatado em 50% das crianças negras, enquanto que em crianças brancas essa porcentagem caia bem (10-30%). Essa lesão é indolor, e possui uma aparência de galhos de árvore esbranquiçada pelo interior da bochecha. Não dói.

Glossite Migratória Benigna

Popularmente conhecido como “língua geográfica”, é uma lesão comum que varia de 2% até 20% em crianças no período escolar. É a alteração de desenvolvimento mais encontrado em crianças.

A língua tem um aspecto avermelhado, e geralmente circundado por um halo esbranquiçado. Percebe-se que essa lesão sempre “muda de lugar” na língua (por isso o nome popular), e pode ser doloroso quando se consome alimentos ácidos.

Língua Fissurada

A Língua Fissurada é uma alteração de desenvolvimento na língua, e pode acometer ou não toda a parte de cima da língua. É a segunda alteração de desenvolvimento mais encontrado em crianças. A atenção precisa ser redobrada somente na higienização da língua (para não deixar restos alimentares dentro dessas fissuras). Não dói.

Grânulos de Fordyce

Os Grânulos de Fordyce são múltiplas pápulas brancas ou amareladas, que quando encontradas, estão no interior da bochecha (mais comum) ou nos lábios superiores. 

Nada mais é do que glândulas sebáceas dentro da boca (isso mesmo), e adivinha, quase 80% da população as possuem! Geralmente, aparece após o início da puberdade. Não dói.

Mucocele

A Mucocele (se for na mucosa do lábio) ou Rânula (se for na mucosa abaixo da língua) é um cisto benigno ocasionado por um rompimento ou obstrução de ductos salivares menores. 

Geralmente é causado por hábitos parafuncionais como sucção ou trauma local, principalmente por mordidas acidentais na região. Pode-se resolver sozinho (romper dentro da boca) ou pode precisar da intervenção do Odontopediatra.

Gengivoestomatite herpética primária

Essas vesículas que podem romper (formando pequenas ulcerações) são causadas pelo vírus do herpes simples (HSV). A lesão é observada mais frequentemente em crianças com idade variando entre 1 a 5 anos e em adolescentes.

Pode ser acompanhada por febre, mal-estar, irritabilidade, dor de cabeça e linfadenopatia regional.

Pode acometer toda a mucosa oral envolvendo os lábios e gengiva. Há sensação dolorosa e necessidade de tratamento e acompanhamento.

Estomatite aftosa recorrente

Popularmente conhecido como “afta”, são erosões ulcerativas, podendo ser única ou múltiplas – possuindo diversas causas de desenvolvimento (trauma, alergia, imunidade ou até doenças). 

É uma lesão dolorosa, mas que cicatriza em pouquíssimos dias (até 14 dias). Se a dor for demais, existem pomadas para o alívio da dor e para acelerar na cicatrização.

Todas essas informações não são para assustá-los, muito pelo contrário, mas sim para redobrar a atenção não somente nos dentes nos pimpolhos, mas em todo o contexto bucal (língua, lábios e bochechas). 

A cárie dentária não é nossa única preocupação (apesar da principal), é necessário que o Odontopediatra do seu filho fique de olho em todo contexto bucal, pois é isso a Odontologia: cuidar e preservar a saúde bucal para sua correta função mastigatória, fonética e até mesmo a parte estética e emocional. 

Lembrando que nem todas essas alterações se resolvem sozinhas, precisando do profissional da saúde para o correto diagnóstico e tratamento.

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